DIOMAR

domingo, 17 de março de 2013

ESQUIZOFRENIA NA BEIRA DO CAIS

]{CELSO NASCIMENTO/ DIOMAR FRANCISCO/GAZETA DO POVO}

A medida que se aproximam as eleições do ano que vem, cresce no mesmo ritmo o que os psiquiatras diagnosticariam como esquizofrenia--doença que, segundo os compêndios da área, caracteriza-se, entre outros sintomas, pela mania de perseguição. Na política, a esquizofrenia aparece por vontade própria e nos momentos mais oportunos--um jeito de fazer com que os outros vejam como verdadeiras as supostas perseguições e se compadeçam com a vitima. A técnica costuma dar bons resultados, especialmente porque tira o foco de fatos que deveriam estar no centro das discussões.

Acontece atualmente no paraná manifestações do gênero esquizofrênico sobre alguns pontos da convivência entres os governo estaduais e federais. Ainda na semana passada, o governador Beto Richa disse que o estado, se não vai pra frente, é porque a União lhe suprime tributos e, para piorar, ainda age como agiota na cobrança de dívidas.

Em outra manifestação, seu porta voz na Assembleia Legislativa fala em " perseguição implacável" e chega a dar nome aos algozes-justamente os três ministros paranaenses que ocupam postos-chave no governo Dilma Rousseff. Reclama, por exemplo, da "privatização loura"--uma referência à ministra Gleisi Hoffmann--que , segundo ele, por meio da Medida provisória 595, está promovendo a privatização do porto de paranaguá, tirando-o da administração pública para entregá-lo à privada.

Também na semana que passou, Beto Richa prestou solidariedade aos trabalhadores de uma dessas centrais que o PSDB sempre combateu e que foram procurar para reclamar da mesma MP 595--que, deacordo com eles, muda as regras vigentes e causa desemprego maciço no cais.

Têm explicações as reações: a "loura" é a mais provável adversária de Beto Richa na disputa pelo governo em 2014. Logo, é importante carimbá-la desde já no papel inimiga do paraná, no porto e dos trabalhadores. Muda-se o foco: o que deveria se restringir a um debate técnico se converte em terreno fértil no qual se plantam e se colhem frutos político-eleitorais.

Não se trata de fazer nenhuma defesa de Gleisi Hoffmann como eventual candidata. Este é assunto que compete à consciência dos eleitores que no ano que vem terão a liberdade de escolher entre reeleger Beto Richa ou preferir outras opções, dentre as quais a que será, possivelmente, representada pela "Loura",ou o retorno de "Requião, a missão". O importante, agora, é saber se de fato a MP 595 fará bem ou mal para o porto e seus trabalhadores.

São questões técnicas que os críticos--que só enxergam política pela frente--não querem ver com a profundidade e no foco devidos. Discutem, por exemplo, se concessão é o mesmo que privatização; se abrir os portos à  iniciativa privada vai torná-los menos ou mais eficiêntes; se a experiência dos portos administrados exclusivamente pelos governos é boa ou rui para o país;e, sobre-tudo, debater se o melhor é deixar tudo como está-- incluindo um regime trabalhista em que predomina os "avulsos", sem as garantias da carteira assinada e explorados por sindicatos dominados por algumas centrais.

A ministra Gleisi Hoffmann tem certeza que a MP 595 responde bem a essas questões: moderniza a infraestrutura portuária, incentiva os investimentos privados, aumenta a capacidade de movimentação de mercadorias, melhora a competição, barateia os fretes e eleva os padrões trabalhistas. Isso tudo sem que, segundo ela, o poder público deixe de ser o "dono" e controlador do negócio.

O paraná, sempre tão intressado no seu polêmico mas quase sempre mal administrado porto, não tem visto suas autoridades debatendo estes pontos com a profundidade necessária. O importante é reconhecer que o terminal paranaense, embora esteja melhorando, ainda está longe de deixar de ser um dos maiores "gargalos" logísticos para o desenvolvimento do estado. E se a MP 595 mais ajuda do que atrapalha.

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