DIOMAR

segunda-feira, 25 de março de 2013

EXCELÊNCIA MEIA BOCA NO ENEM

{BELMIRO VALVERDE JOBIM CASTOR/ DIOMAR FRANCISCO/GAZETA DO POVO}

A descoberta de que estudantes receberam nota maxima na redação do Enem apesar de cometer erros grosseiros de português não deveria  serpreender ninguém: faz parte de um fenômeno muito mais amplo, que é a nossa complacência com a falta de qualidade em tudo ou quase tudo que fazemos ou que costumamos.

É a mesma lógica que leva a indústria brasileira a ter um índice de defeitos 12 ou 15 vezes maior que a indústria Japonesa ou Alemã; que leva os produtos brasileiros a ocuparem sempre um lugar menor nos rankings de qualidade; que leva os prédios recém-construídos a apresentar problamas de vazamento e de instalações, porque os projetos são deficientes e a habilidade de verdadeiros pedreiros é substituída pala improvisação dos "meias-colheres". É a mesma lógica que resulta em que tenhamos em nosso em nosso país uma multidão de prestadores de serviços tecnicamente deficientes, autodidatas que recorreram ao método da tentativa e erro para aprender. Ou na medicina, em que faculdades de baixa qualidade formam doutores idem. Ou em tudo o mais. É, finalmente, a mesma complacência que dedicamos aos Calheiros, Sarneys, Henriques Alves e similares, que fazem da política no Brasil o que ela é.

Mas que fez o Inep? Declarou que os alunos que estão acabando o ensino médio ainda se encontram em "processo de letramento" e que "um texto pode apresentar eventuais erros de grafia, mas pode ser rico em sua organização sintática, revelando um excelente domínio das estruturas da língua portuguêsa". "Excelente domínio", diz o Inep...O problama está  nesse aviltamento da excelência, nesse abastardamento da qualidade.

Não vou retamar a polêmica do livro por uma vida melhor, que defendia que a insistência em ensinar uma norma culta de linguagem nas escolas era simplesmente uma manifestação de elitismo e que, portanto, nada haveria de errado no professor aceitar os "nós vai", "a gente vamos", "nós  pega o peixe", pois é assim que "o povo fala". Muitos educadores "progressistas" acreditam que esse tipo de atitude é "transformadora"; eu, como jurássico, acredito que a escola deve zelar para que seus egressos falem e escrevam de acordo com a norma culta, pois falar e escrever errado não contribui para a ascensão social de ninguém, muito pelo contrário. Nisso e em tudo o mais, na engenharia, na medicina, na indústria, no comércio, na varrição de ruas e no desentupimento de bueiros, deveríamos perseguir a excelência real e não essa excelência meia-boca, autocomplacente com nossa próprias deficiências.

Em homenagem-tributo à multidão de excelências meias-bocas que povoa nosso país, vou fazer uma exceção. Se Noel Rosa tivesse escrito "nosso amor que eu não esquesso...e que teve seu comesso em uma festa de São João", eu continuaria a achar que Meu Último Desejo é um dos poemas mais lidos da música brasileira. Mas o meu querido e inesquecível professior de português Antonio Fagin diria: "que beleza de poesia. Pena que é só para ser ouvida, pois lida é um desastre de 'letramento'.E não daria nota 10 a ele.

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