DIOMAR

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A FÁBULA DA BOA PERGUNTA NA QUESTÃO DA EDUCAÇÃO

#DIOMAR FRANCISCO/ GAZETA DO POVO}

SECRETÁRIA MUNICIPAL DE EDUAÇÃO DESAFIA LÓGICA DOS RANKINGS E SE DEBRUÇA SOBRE ESCOLAS DE REGIÕES POBRES, MAS COM DESEMPENHO RASOÁVEL NO IDEB.

O educador José Pacheco- idealizador da Escola da Ponte em Portugal- resume o ensino a um princípio simples, quase tatibitate: educar é fazer a pergunta certa. Vale para o aluno. Vale para o professor. Vale para todo mundo. A tomar pelo que diz o homem que se tornou sinônimo de boa pedagogia, a Secretaria Municipal de Educação de Curitiba acaba de fazer a mais certeira das perguntas. Eis a questão: "O que faz de uma escola em área de pobreza, com mais da metade dos alunos assistidos pelo Bolsa Família, ter um bom desempenho?"

Parece elementar, mas não é. Há duas constantes no índice de Desenvolvimento da Educação Básica (ideb),  instrumento que mede o desempenho. Onde há mais alunos cujas famílias estão ligadas ao bolsa família, o ideb é menor, onde há menos alunos em pobreza extrema, a nota é maior. Não se trata da descoberta da rota. Sabe-se não é de hoje da amarração entre escolaridade dos pais, rendimentos familiares e desempenho escolar. O surpreendente é o conformismo com que essa questão é aceita, como se fosse uma verdade incontestável e incontornável.

Em geral, instituições em que entre 40% e 70% dos alunos vêm de famílias amparadas pelo governo patinam nos limites da nota 5. As escolas que desafiam essa curva, supõe-se, são as que conseguem ter mais estabilidade no corpo de professores, vínculos com a comunidade, proximidade com os pais, gestão agregadora. Ou ainda mais, justo o que se quer descobrir. A secretaria não quer alarde, temendo repetir o mal que quer combater- o da competitividade entre as instituições de ensino. Mas não faz mistério sobre uma situação bem particular: a dos colégios municipais que atuam na zona da Vila Acrópole,  um encrave paupérrimo no bairro Cajuru. A Ayrton Senna e a Maria de Lurdes Pegoraro merecem ser convertidas num objeto de estudo antropológico, de modo a entender o que leva professores, pais e alunos a superar situações adversas, equiparando-se a colégios em situação bem mais confortável.

 As duas escolas em questão estão longe da São Luiz, em quase tudo, inclusive na nota do ideb. Mas estão mais perto da maioria das mais de 180 escolas da cidade do que a instituição mais modelar que temos. Os dois centros educacionais da Vila Acrópole podem ser um espelho positivo, pois indicam uma possibilidade de onde podemos chegar. Tanto Ayrton Senna quanto Maria de Lurdes Pegoraro apontam pistas. O Pegoraro, por exemplo, é um espaço palpável. Os professores da escola sabem o tamanho exato de sua freguesia e atuam sobre ela, construindo uma escola fora dos muros, que bate na porta dos pais e interage com eles. É uma escola cidadã A Ayrton Senna enfrenta problemas maiores. A favelização no seu entorno é crescente. É, portanto, menos palpável, logo, mais líquida. Mas é surpreendente como a direção vence essa dificuldade, atraindo os pais- boa parte deles carrinheiros- a participar da vida da escola. A gestão se sobre põe à geografia inclemente. É outra equação, a ser observada, não para servir de modelo, mas a incentivar seu DNA. Como se faz? Segundo Pacheco, perguntando-se.

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