#DIOMAR FRANCISCO/ LÉO DE ALMEIDA NEVES/ GAZETA DO POVO}
Na véspera do aniversário da proclamação da República, os restos mortais do presidente João Goulart foram exumados e remetidos para Brasília, ensejando pretensão de honras de chefe de Estado pela Presidente Dilma Rousseff e pelos ex-presidentes. Só não compareceu FHC por motivo de saúde. Houve salvas de tiros e o Hino Nacional foi entoado, presidentes ainda 20 ministro, senadores, deputados e membros da comissão da verdade.
O objetivo da exumação é averiguar a causa da morte do presidente em sua fazenda na Argentina, em 1976, sem ser submetido a autópsia e com atestado de óbito dizendo laconicamente "enfermidade". O estranho é que em um período de sete meses morreram os ex-presidente João Goulart e Juscelino Kubitschek, além do ex-governador Carlos Lacerda, que tinham organizado a Frente Ampla, para defender o retorno à democracia. Houve apenas um concorrido comício em Maringá e, a seguir, o movimento foi declarado ilegal, e Carlos Lacerda, um dos principais artífices do golpe militar de 1964, foi preso e cassado.
A história fará justiça ao patriotismo de João Goulart, que evitou por duas vezes o derramamento de sangue: a primeira foi a sua posse, após a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, e a vitoriosa campanha da legalidade liderada do Palácio Piratini, em Porto Alegre, pelo governador Leonel Brizola. Jango aceitou tomar posse com poderes limitados pelo parlamentarismo e não quis chegar ao governo pelas armas, repetindo a Revolução de 30.
A segunda vez ocorreu na sua deposição, em 31 de março e 1º de Abril de 1964; João Goulart não autorizou o bombardeio das forças de Minas Gerais comandadas pelo general Mourão Filho, que iniciou a sublevação, e não quis resistir ao golpe, inclusive de Porto Alegre, onde o general Ladário Telles havia assumido o comando do 3º exército. Jango tinha tomado conhecimento, pelo ex-ministro da fazenda Sant Tiago Dantas, que o Estados Unidos interviriam militarmente a favor dos golpistas e já tinham autorizado o deslocamento de navios para o Porto de Santos.
João Goulart foi Ministro do Trabalho de Getúlio Vargas em 1953, secretário de Interior e Justiça do governo gaúcho, deputado estadual e federal e duas vezes eleito vice- presidente da República quando o titular era escolhido pelo o voto popular. Em 1960, elegeu-se vice de Jânio Quadros.
No exercício da Presidência da República, João Goulart respeitou a democracia em sua plenitude, formou um ministério com figuras exponenciais da cultura e do devotamento à causa pública do país, e defendeu a implantação das Reformas de Base. Foi sucessor legítimo dos ideais de Getúlio Vargas, e aos poucos se fez o reconhecimento de ambos como autênticos estadistas.
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